terça-feira, 23 de junho de 2009

Peru – Bolívia – Considerações do Brasil

Toda essa aventura realmente não foi - e eu não esperava ser – da forma que esperava. Isso, creio, acontece com várias pessoas que viajam. E também é o mais legal. “Curtir as histórias de antes (preparativos, roteiro, expectativas, etc) e o depois – que será contado várias vezes e curtir sempre - , isso é legal de viajar”, são palavras de um grande amigo Eduardo Meyer antes de eu partir e ele estava absolutamente certo. Para cada pessoa que conto minha aventura sudamericana lembro de algo que não contei antes, descrevo com mais ou menos detalhes, dou risada e faço rir e curto cada palavra na minha lembrança. Viajar, além de sair de uma rotina, é conhecer novas culturas e pessoas, é ver que o mundo não ser resume ao que enxergamos como mundo. Ficar conectado no dia a dia na pequenez de um círculo de afazeres ou obrigações nos transforma em seres restritos a certos pontos de vista.
Tive outras experiências com outras culturas anteriormente, mas cada uma é única. Essa oportunidade de confrontar culturas e hábitos nos transforma e quebra paradigmas formados. No meu além desses me fez lembrar de alguns que achava que estavam mortos em meu interior. Como o que escutei quando estava em Cuzco, sem grana e regulando os últimos trocados que possuía: “Viva um dia cada vez. Hoje é hoje, amanhã você pensa sobre o amanhã”. Isso deu uma balançada.
Poderia ficar aqui filosofando durante linhas, mas creio que para um encerramento – pelo o primeiro – já escrevi demais. Finalmente, poderia listar diversos nomes para o agradecimento final, mas poderia esquecer de alguém ou não dar o devido credito a outros, portanto farei um agradecimento geral a todos de que antes, durante ou mesmo depois participaram, viajaram, ajudaram, patrocinaram ou simplesmente acompanharam junto comigo. Muito obrigado mesmo. E por fim queria deixar uma ultima consideração ou dica a todos:

Quando você quer uma coisa, mas quer mesmo, você consegue. De repente quando perceber você já realizou ou está realizando. Até hoje, viajo, relembrando os momentos que vivi. Eu realmente estive lá. Revendo minhas fotos, textos e vídeos, penso, as vezes, que poderia ter feito diferente, que poderia ter conhecido mais lugares e curtido mais. Mas depois reflito e aceito que tinha que ser assim. De outra forma não seria a minha “viagem”, porque foi única. Deixei a minha ultima etapa aberta – Arequipa e vulcão El Misti – talvez, para um gostinho de quero mais, ou talvez para ter conhecido outras pessoas que não conheceria caso tivesse ocorrido como planejado. Esses exemplos servem para ressaltar que apesar de tudo eu consegui realizar uma vontade um sonho, e valeu cada centavo, cada perrengue, cada comida exótica e cada cerveja (claro !) e cada minuto que vivenciei. Por mais impossível que possa parecer para as outras pessoas, acredite em você e parta para cima.

Abraços a todos e até a próxima – que já está no planejamento.

Mu

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Assuncion – Paraguai – São Paulo - Brasil – 11-12/02/2009

Não queria passar pelo mesmo perrengue dos outros ônibus, como falta de banheiro, poucas paradas e banco pouco confortável. Fui então direto para viação Pluma e comprei uma passagem para as 10 horas. Bom um empresa brasileira me deixava mais tranqüilo, porém tinha o problema das balas de coca. Havia perguntado para meu amigo do hotel (recepcionista) se a fronteira era muito rigorosa. No passo que ele respondeu que as vezes pegavam muitos brasileiros e qualquer coisinha era motivo para averiguação durante algumas horas e problemas com a policia. Na noite passada me livrei de algumas balinhas. E ao chegar na plataforma de embarque enquanto colocava minha mochila – desta vez devidamente etiquetada pela empresa – perguntei ao motorista como era a fronteira do paraguai com relação aos brasileiros e se recentemente alguma novidade, etc? O motorista virou para mim e disse: ”Cara você é brasileiro? Eu sou do paraná.”. Pronto eu já estava quase em casa. Batemos um papo e ele me disse a mesma coisa que o cara do hotel, e que as vezes os brasileiros passavam por uma revista dos pés a cabeça. Bom por via das dúvidas me livrei das outras balas. O ônibus partiu no horário. Tinha televisão onde vi além de uns filmes o especial dos Trapalhões – quer coisa mais brasileira? Recomendo que experimentem a chipa – tipo um pão de queijo maior - paraguaia que bem diferente da do mato grosso e das que servem aqui em São Paulo em algumas padarias. Elas podem ser compradas em qualquer padaria ou como eu foram vendidas dentro do ônibus para São Paulo. Paramos para almoçar por kilo e finalmente consegui tomar uma guaraná Antártica. Já me sentia no Brasil. A por volta das 5 da tarde chegamos a Ciudad del Leste e descemos do ônibus para passar pela a migração antes da Ponte da Amizade. Tudo ok e ao chegarmos no lado brasileiro, para fechar com chave de ouro, o motorista fala para todos: “Atenção só descem do ônibus os estrangeiros, hoje os brasileiros não precisam passar pela migração”, depois olha para mim e faz sinal de ombros. Eu não sabia se ficava feliz por chegar ou triste por ter me livrado das balas de coca. Alguns minutos mais estávamos na garagem da Pluma com um tempo livre enquanto eles limpavam o banheiro e o ônibus – maravilha estar no Brasil menos de 10 horas de viagem e eles limparam tudo. Aproveitei ,juntamente com outros passageiros, o tempo livre e fui a um shopping próximo cambiar minhas moedas e notas de outros países. Tentei inutilmente trocar os malditos U$ 5,00, mas a resposta foi a mesma, juntamente com uma recomendação de trocar na casa de câmbio que eu havia adquirido. Voltei para o ônibus e cinco minutos depois estávamos na rodoviária de Foz do Iguaçu. Ali vários sacoleiros embarcaram com seus produtos, o que acarreta demora por conta da pesagem e distribuição de bagagem por passageiro e eventuais “laranjas” (pessoas contratadas para irem até o destino do ônibus somente para dividir o limite de peso de bagagem por passageiro). Partimos e por volta das 20 horas estava jantando em Cascavel. De manhã mais uma parada em Bofete já em São Paulo e finalmente depois de 5 dias, 80 horas dentro de ônibus diversos, quatro países, várias chuvas, enchente, pedidos de propina, comendo em lugares muito suspeitos, xingar companhias de ônibus, me defrontar com pessoas mal-educadas, educadas e vendedores de bába de caramujo, passar frio e calor intensos, cheguei a rodoviária do Tiête por volta das 9 da manhã. Lá, não demorou muito e reencontrei minha querida esposa, amiga e “assessora” no Brasil, Leticia, juntamente com a Marlene (sua mãe) que também deu uma força quando eu estava lá fora.
Finalmente um ônibus decente
Ponte da Amizade
Entrando no Brasil, finalmente
Foz do Iguaçu
E minha última foto desta viagem finalmente no Brasil

Santa Cruz de La Sierra – Bolívia – Assuncion – Paraguai – 09-10/02/2009

No horário já estava aguardando ser chamado para embarcar em um ônibus pior que o anterior (e olha que aquele foi dureza: sem banheiro, vazamentos no teto e poltrona pouco reclinável) e com muito mais assentos do que o previsto. Olhei a lista de passageiros eu brasileiro, um paraguaio e todos os outros bolivianos. Assim que partimos foi servida a janta ( arroz, carne fria, legumes, bolinho de chocolate e refrigerante) e duas quadras depois paramos com alegação que o ônibus tinha quebrado, tínhamos que cambiar (trocar). Mentira total que percebi ao entrar no outro ônibus. Este com 24 lugares, ar condicionado, banheiro e poltronas semi-leito reclináveis, exatamente como prometido pela companhia. Aí caiu a ficha o ônibus era de outra empresa que não poderia sair da rodoviária, provavelmente clandestino. Comecei a ligar as coisas: ônibus turístico, a maioria dos passageiros bolivianos que iriam para o Brasil após trocar três vezes de ônibus, pronto estava frito: estava junto com os clandestinos. Bom, “ta no inferno...” . Apesar de tudo os passageiros eram muito simpáticos a minha frente um casal bolivianos com quatro filhos pagando somente 4 passagens e receberam somente 4 jantares. Comi eu já havia comido, ofereci o meu para o pai que recebeu e agradeceu com um sorriso, ele usava a camisa do Ronaldinho Gaúcho do Grêmio. A viajem continuou e eu só tinha coisa para fazer: dormir e descansar. Mas por volta das 4 da manhã paramos. Tínhamos que desembarcar: Aduanda Boliviana. Uma estrada de barro no meio da selva num breu total, além do calor (!!!!). A uns trezentos metros uma luz era a única coisa que se via e teríamos que fazer o trajeto a pé. Bom eu estava devida equipado com uma luz portátil para leitura e eventual falta de iluminação nos ônibus (isso também é comum nessa região). Caminhei até luz (não é poltergeist não) que era na realidade a migração da Bolívia que se resumia a uma casa com dois cômodos, bar ao lado e senhoras com mesas na frente fazendo o câmbio de moedas. Entre na fila. Na minha frente um outro casal de bolivianos mais jovem aguardava. O funcionário gritou para eles “quantos sãos usted?”. O rapaz tentou dizer que estava no ônibus com outras pessoas, mas o funcionário o cortou e repetiu a pergunta com mais ênfase ainda como se fosse uma obrigação deles já saberem e não a dele. Educação boliviana, pensei. O rapaz fez sinal de dois com os dedos, o funcionário entregou então os formulários (targetas) de migração e o casal saiu. Automaticamente o funcionário me olhou dos pés a cabeça e perguntou: “ E tu?” , ao passo que eu só levantei o passaporte. E ele: “és Brasileiño” e eu: “si”. “Dame-lhe tu passaporte e senta-te a cá” , apontando para uma poltrona velhas e rasgada ao lado de uma mesa. Ele sentou numa cadeira atrás da mesa e fez cara de poucos amigos enquanto olhava meu passaporte. Nisso chega outro camarada funcionário e pára na minha frente e pergunta de novo se eu era brasileiro, a mesma resposta. Um deles me pergunta o que eu fazia na Bolívia eu disse turismo e descrevi meu trajeto. Após isso eles comentaram em castelhano como se eu não os entendessem, que com tantos caminhos (estradas) e tipos de transporte porque eu tinha que passar por ali de madrugada junto com um monte de bolivianos. Nessa hora eu amaldiçoava a companhia de ônibus até a ultima geração da família do dono. Mas tudo bem carimbaram meu passaporte pegaram minha targeta de saída e eu estava liberado. Tínhamos que retornar ao ônibus? Mas cadê a migração paraguaia. Em todas as outras fronteiras os postos de migração ficavam um do lado do outro, ali não? Aí lembrei: ônibus clandestino, mais maldições a companhia. Voltamos ao ônibus e partimos, uma hora nada de migração, duas horas, nada, amanhece, nada. Estrada de barro, de repente asfalto e o ônibus pára. Pneu furado, abri a janela para olhar para trás fronteira, ou seja estava em território paraguaio somente duas horas após a migração. Não é toa que aquela rota é conhecida como a rota do tráfico, é terra de ninguém. Consegui tirar uma foto antes de repreendido pelo motorista. Aliás, uma das regras é jamais abrir as janelas. A desculpe era por causa do aire (ar condicionado), mas nada disso, o ônibus tinha isulfim e ninguém poderia ver quem estava ou como era a cara (típica) das pessoas de dentro. Bom, trocado o pneu e uma hora depois chegamos finalmente a aduanda paraguaia. Um galpão grande de dois andares de concreto, no qual na parte interior o pátio era divido em dois por uma plataforma de cimento, tipo de estações de trem. Novamente descemos mas desta vez com nossas mochilas retiradas do bagageiro inferior. Ficamos neste pátio perfilados de frente com nossas bagagens para verificação da polícia federal paraguaia. Então ali não era ainda a aduanda propriamente dita. Vários policiais vestidos todos de preto, bonés, óculos escuros e distintivos no peito aguardavam todos tomarem suas posições. Um deles então começou a chamar alto: Bob! Bob! E batendo palmas. Foi aí que eu vi o tal do Bob. Um cachorro dentro de sua gaiola de transporte, grande o bicho. Esse policial munido de um pote cheio de cocaína atiçou o pobre do animal e soltou para revistar as bagagens. Aí lembrei: eu tinha comprado balas de coca e estava trazendo na mochila. Pronto se esse bendito achasse eu poderia ser indiciado em trafico internacional de drogas? Durante quase 15 minutos, o Bob cheirou, fuçou e nada. Ufa! Estava livre? Aí outro policial veio e pediu a todos que colocassem suas bagagens na plataforma e tirassem tudo de dentro. Pronto, gelado de novo. Individualmente cada policial verificava as bagagens. O meu, até muito educado, permitiu que eu retirasse as minhas coisas. O cara cheirava tudo, menos minhas cuecas e roupas sujas é claro. Foi quando chegou nas balinhas de coca. Ele olhou e disse: “balas de coca?” no que eu rapidamente disse: “ Pero no tienes lo principio activo”. Ele me disse: “aqui o senhor entra mas em seu país acho que não”. Aí retirei minhas garrafinhas cheias de pisco e rum que estava trazendo para beber com meus amigos. O policial pego-as e pôs um pouco afastado. Depois pediu licenças para me revistar, olhou meu guarda notas na cintura junto ao corpo, pediu para abrir e viu minhas notas. Ao terminar disse que podia guardar tudo menos as garrafas. Eu perguntei porquê? Ele que não poderia entrar com as garrafas, somente. Perguntei novamente porquê e como poderia entrar então. Ele disse novamente que não era permitido. Não queria insistir, mas perguntei se poderia preenchendo algum formulário ou autorização. Ele disse, em tom bem baixo, que eu poderia entrar se lhe desse uma destas, apontando para meu porta notas. O desgraçado queria propina para deixar entrar com 5 garrafas de bolso de bebida. E pior de 20 doláres pois só eu só tinha dessas No passo que eu perguntei: “E não lhe der?” ele: “Então as garrafas ficam aqui.” Respondi que não daria e ele que as garrafas, desta forma ficariam. Eu perguntei: “Vão ficar?” e ele : “si”. Então, calmamente abri uma por uma e joguei o precioso liquido todo no chão de barro, próximo a plataforma bem na frente dele e com direito a um ultimo gole da ultima garrafa. Depois eu trouxe as garrafas e apontei para ele dizendo: “Aí estão, senhor” e ele respondeu fingido educação: “Agora o senhor pode continuar sua viagem”. Eu xingava tudo essa hora. Fui orientado que deveria agora passar pelo escritório da aduanda propriamente dita. Era casa simples e aguardei na fila. Ao ver me passaporte um funcionário gentilmente o pediu e falou para aguardar afastado da fila. Pensei: o que vem agora. Para meu espanto um minuto depois me pediu para entrar. Eu estava apreensivo pois tinha fila e ele me fez corta-la. Dois simpáticos homens atrás da mesa conversavam animadamente e um deles me perguntou: “ Quer dizer que daqui algum tempo teremos finalmente um Ronaldinho paraguaio, não é?” e começaram a rir. Não entendi na hora e ele complementou: “ É que teremos um jogador pai brasileiro e mãe paraguaio.” Ele quis dizer eu iria arrumar filhos no paraguai, por isso alguém no lá iria jogar bola como brasileiro. Dei um risada sem graça e ele disse com um sorriso no rosto: “Bem vindo ao Paraguai” e entregou meu passaporte. Agradeci e fui para o ônibus. Minhas aventuras com policiais paraguaios não acabava ali. Bom pensei pelo menos estou com as balas de coca. Opa, isso era preocupante, mas deixarei para pensar depois. Dois funcionários da aduanda pegaram carona em nosso ônibus e depois de umas duas horas fomos parados pela polícia. Dois entraram, um vestido com farda militar e outro vestido como polícia federal. Munidos da lista de passageiro vieram direto para minha poltrona e disseram meu nome. Eu disse que sim que era eu. Um deles pediu o passaporte e o outro o que eu estava fazendo no país. Toca eu explicar tudo de novo. Um deles olhou minha carteira de vacinação de febre amarela datada de 2007 (foi o ano que fui a Cuba e precisei da carteira) e disse que não valia mais. E complementou dizendo que só vale por um ano. Eu retruquei e lhe disse a que vacinação é validade por dez anos e não um, e que não importava quando tivesse tirado a carteira desde que a vacina estivesse no prazo. Lógico que depois disso não houve argumento por parte deles. Se entreolharam, olharam para mim novamente e me entregara o passaporte. Para terminar o policia federal ainda disse em tom de brincadeira: “ Brasil, cachaça boa, né. Samba” Fiz uma cara de “foda-se” e balancei a cabeça. Estava claro que aqueles dois só queriam uma coisa: grana. Estava certo, pois mal começamos a andar de novo, um dos homens da aduanda veio até mim e perguntou o quê que os policias haviam me falado. Eu descrevi para ele. Então ele, de uma forma bem direta e até abrupta, orientou-me que os caras só queriam dinheiro, que eu não deveria dar nada a nenhum policial no paraguai, que eu era turista e tinha meus direitos. E ainda ressaltou que se tivesse algum problema que eu deveria dizer que iríamos a policia juntos e chamar a embaixada ou consulado. Eu agradeci e ele sorriu. Achei legal a atitude do homem, um pouco louca, mas legal. A partir da em cada parada da policia e não forma poucas, ficava esperto. Cheguei em Assuncion por volta das 6 da tarde. Um a cidade grande, parecia organizada e limpa. Olhei para o relógio/ temperatura na rua 36 ºC !!! Só acreditei quando desci do ônibus na porta do hotel onde o pessoal iria ficar. Me despedi do pessoal e fui direto para a rodoviária para ver se arrumava passagem naquela mesma noite. Na rodoviária fui informado que ônibus somente pela manhã e a maioria das companhias os guichês já estavam fechado. Aproveite e fiz um câmbio de dinheiro rápido ali mesmo na rodoviária para passar a noite finalmente dormir em uma cama em algum hotel próximo. Me informei num guichê de uma companhia se havia lugar para comer bom ali perto e qual o hotel recomendariam. Duas dicas preciosas, estava cansado, suado e com fome. O rapaz me indicou um hotel legal do outro lado da rua, que possuía um restaurante embaixo muito bom. Segui a dica e não me arrependi. Na portaria, só havia quartos duplos, não me lembro quantos guaranis paguei,mas foi cerca de R$ 20,00 pelo pernoite com banheiro no quarto, água quente, ar condicionado e televisão. Tomei um banho e desci para comer algo no restaurante embaixo mesmo. Para variar cerveja, mas agora Brahma de 960 ml (!!) geladíssima no baldinho e churrasco de calçada muito bem feito e pago por pedaço, comi costela e lingüiça e acompanha grátis farofa, arroz, farofa e maionese. Lembrou bem o Brasil. Tomei mais uma breja e resolvi descansar, mas antes bati um papo com o recepcionista do hotel. O rapaz tinha por volta do 25 anos, casado com uma filhinha, trabalhava 12 por 12 horas todos os dias!!! Ou seja 365 dias por ano, feriados, natal, ano novo e tudo mais. E ele me disse que o dinheiro que ganhava mal dava para pagar as despesas e olha que mulher dele também trabalhava. E tem gente no Brasil que ainda reclama? Conversei com ele uma hora mais ou menos e pedi para ele me acordar antes de acabar o turno dele para eu fazer o check-out com ele. Desci de manhã e paguei minha conta e junto dei-lhe uma boa gorjeta. Fui então tomar café na rodoviária.
Essa era visão que tinha ao sair do ônibus
Olha só posto de migração
muito longe, vê-se uma placa verde, fronteira com Bolivia e final da estrada de barro

a troca do pneu do ônibus
tente ver o final da pista ou uma curva

o começo do chaco, vegetação típica
finalmente estava chegando a Assuncion

La Paz – Santa Cruz de La Sierra – Bolívia – 08-09/02/2009

O ônibus que parti de La Paz era bem pior que os anteriores e até o bairro El Alto não estava muito cheio. Como disse não estava, pois lá lotou completamente. Entre paraguaios, bolivianos, suíços, gringos não identificados o bus que já não era aquelas coisas – sem banheiro para uma viajem de mais de 20 horas – ficou pior ainda. O jeito foi dormir, pois não tinha paisagens ou outra coisa para fazer. Acordei algumas vezes na descida dos altiplanos em meio a uma chuva persistente. Ao amanhecer percebi que já estávamos na zona do chaco. Esta vegetação, é uma mescla do pantanal com a amazônica, é muito rica em flora e fauna. Paramos em restaurante no meio do nada. Caras de repulsa dos locais para os turistas por parte dos nativos foi a nossa recepção em meio ao barro do chão. Resolvi pagar para usar o banheiro, lavar o rosto e acordar definitivamente. Pedi uma café, na esperança de tomar um mais “brasileiro” mas para minha decepção veio uma xícara de água quente e um sache de nescafé, fazer o que né. Ao sair do restaurante foi que vi realmente onde estava. No meio do nada na estrada de Cochabamba. Estrada de barro batido elameada, uma reta só que não se via o final. A chuva começou a apertar e voltei para o bus. Poucos minutos depois pegamos uma estrada asfaltada, e chuva mandando. A vegetação é muito rica mesmo e reparei que em determinados momentos aparecia um rio lateralmente a pista de lado, outras do outro lado e de repente dois rios um de cada lado do rio, e chuva persistente. De repente o inevitável aconteceu os dois se juntaram no meio da pista e o ônibus parou. Abri a janela e observei a frente que pista estava completamente tomada pela água pelo menos por uns 400 metros. Bom, pensei “Ta na chuva é para se molhar” para mim se tivesse que pernoitar ali tudo bem. Tinha saco de dormir, isolante térmico, dinheiro e tinha visto uma aldeia a alguns kilometros atrás. Meu pequeno plano foi por água abaixo quando o ônibus retomou o caminho. Em meio a alguns comentários como “o chofer és loco” o motorista foi devagar no meio daquele verdadeiro rio. Já passei por várias em minha vida mas essa foi demais. Era uma verdadeira enxurrada atravessando a pista. Eu disse pista? Não se via nada de pista só água e muito forte. Todos do ônibus acompanhavam sismados ou como eu com a câmera na mão. Aproveitei e até filmei. Depois de aproximadamente 1 kilometro conseguimos vencer o obstáculo e retomamos o caminho. Tudo correu tranqüilo apesar do diversos “pedágios” ou postos de controle. Ao chegarmos mais próximos a área urbana de Santa Cruz, além de diversos vendedores mais diversos – salgadinhos, comidas exóticas para um ônibus como um saquinho que continha um ovo cozido, maíz (milho) outras coisas não identificadas; além do tradicional gelado (sorvete) no copinho que era vendido por meninos e você usa o um palito de sorvete para toma-lo – entro também um homem que aguardava a venda de todos. Quando os vendedores saíram ele tomou a palavra. Começou o discursos falando do problema do câncer de pele, do número de incidência na região dos altiplanos, etc, até chegar no ponto que ele queria: vender. O produto que nosso ótimo orador oferecia nada mais era que a “bába do carmujo” em forma de cremes, protetores, shampoos, sabonetes, etc onde o feliz comprador teria na compra de mais um produto descontos fantásticos e muito mais barato que no comércio tradicional. Este homem ficou mais de 40 minutos falando, falando e vendendo (acreditem). Finalmente faltando 5 minutos para a rodoviária ele deixou nosso ouvidos em paz. Santa Cruz é muito mais parecida com nossas capitais e cidades. E lógico os mesmo problemas pelo que vi. Naquela altura do campeonato qualquer coisa que lembrasse o Brasil me deixava mais animado. Como de praxe ao desembarca fui direto buscar passagens, quem sabe direto à São Paulo. Rodei e achei umas três companhias que faziam a linha, porém nada direto. Elas ofereciam além de serviço de bordo completo ( jantar, lanche, almoço e outro lanche por dia) uma troca de ônibus em Assuncion, outra troca em Ciudad del Leste e finalmente até São Paulo. Achei um pouco cansativo mais três ônibus e resolvi pegar somente até Assuncion, em ônibus turístico (erro grave) e serviço de bordo (isso economiza nas paradas, se tivesse). Escolhi a Viação Trans Rosário partindo as 19 horas, com lista de passageiros e 24 lugares (??) e Bs 350,00 (bolivianos). Tomei um banho, comi algo e arrumei uma lan house para blogar os últimos dias conturbados.
A parada na estrada de Cochabamba
belo visual, não?
A chuva não parava...
... até que transbordaram ...
... formando só um rio no meio da pista.

Olhe o vídeo e veja a situação real.


Depois de tudo isso cheguei vivo na rodoviária de Santa Cruz de La Sierra (acima)

Cusco – Peru - La Paz – Bolívia - 07/02/2009

Acordei e depois de saber que meus planos para Arequipa tinham ido de água abaixo (vide post “Urgente - Cusco - Peru a Santa Cruz - Bolivia 30/01 a 09/02/09”) e de tomar um café foi para o terminal garantir minha passagem. Pronto, sairia naquele dia as 22 horas com destino a La Paz, “conexões” em Puno e Copacabana (portanto o sentido contrário de minha ida). Tinha o dia livre e resolvi bundar um pouco. Fiquei com o Edimilson na praça uma boa parte da tarde antes do meu embarque. De repente começou a juntar brasileiros de todos os lados. Primeiro foi um carro com quatro gaúchos (dois rapazes e duas ticas) que acabaram de chegar e estavam esperando outro carro também com a mesma formação. Eles estavam viajam do Rio Grande do Sul de carro, haviam passado pela Argentina e Chile e iriam depois de uns dias (e depois de MP) para Bolívia. Estavam bem animados e tinha até rádios (tipo talk about) para se comunicar entre os carros. Apareceu por lá também o Ricardo do Café Brasil. A galera na praça virou atração de outros turistas e principalmente das crianças que vendiam de tudo (luvas, cachecóis, bonecas, etc). Estava chegando minha hora e o Edimilson fez as vezes de guia turístico para a galera recém chegada e agora com todos os integrantes. Me despedi de alguns e fui pegar minha mochila. Lá novamente me despedi do Cristian – grande amigo – e dos peruanos Álvaro e Cezar. Encontrei o Edimilson no caminha para o táxi e outra despedida emocionada e parti.
Tinha pela frente um longo retorno. Na minha viagem de Puno a Cuzco havia demora cerca de 10 horas em condições precárias, mas para minha alegria desta vez o bus era bem melhor, bancos semi-leitos, limpo e ao meu lado um brasileiro do Espírito Santo de pouca conversa. A viagem rolou sem nenhum contra tempo e as 4 da manhã estava em Puno. Ao desembarcar fui diretamente ao balcão da companhia pegar a passagem de “conexão” até Copacabana. Só sairia as 7 da manhã, portanto fiquei 3 horas esperando em meio a outros viajantes dormindo em sacos no chão, cafés e pelo amanhecer uma banda de musica tradicional deu o alvorecer ali mesmo dentro da rodoviária.
Entrei no bus, era bem pior que o anterior, mas tudo bem trajeto pequeno. Cruzei a fronteira com a Bolívia, a mesma que o Cristian teve problemas para sua entrada no Peru no dia 21/01. Pouco tempo depois estava de novo na Bolívia e em Copacabana, era meio dia e o ônibus, para variar, iria partir somente as 13:30 h. Almocei e fui dar um role perto do porto e encontro um dos brasileiros que curtiu a noite com a gente em Cuzco. Ele também estava voltando ao Brasil. Batemos um papo rápido e fui para o ônibus. Depois de algum tempo após a partida já estava no braço do Titicaca que eu havia cruzado há dias atrás durante a noite. Desci do bus, paguei a bendita taxa e embarquei na lancha até a outra margem. Logo estava na estrada de novo atravessando aquele trajeto de curvas as margens daquele fabuloso lago. Algumas horas depois tive minha ultima visão do Titicaca. Este lago realmente marcou minha viagem, e quero revê-lo um dia. Mais algumas horas e já estava de novo no bairro El Alto de La Paz e logo aviste aquele aglomerado de casas de blocos de barro descendo aqueles mais de mil metros pelo cerro e ao fundo o belo Illamani. Ao chegar ao terminal ocorreu conforme relatei no post: Urgente - Cusco - Peru a Santa Cruz - Bolivia 30/01 a 09/02/09 e parti para Santa Cruz de La Sierra as 20 horas.
De volta a Copacabana, aguardando o outro ônibus
Casas próximo a Copacabana


E curtindo o visual que não vi na ida pois estava noite
O Titicaca

E a travessia de lancha e o ônibus de balsa

Não interprete mal é simplesmente uma praça de alimentação
Ainda faltava 112 km para La Paz

E a ultima olhada para o Titicaca (desta vez)
mais algum tempo já estava em La Paz


E ao fundo o monte Illamani

os condores no sindicato dos escritores de La Paz

O Retorno – Cusco – Peru – 06/01/2009

Meu saque de emergência finalmente saiu dia 5 e chegou meu cartão dia 6, finalmente, com um dia de atraso em relação a data absurda que me passaram do Brasil (5 dias úteis). Mas estava convicto que iria partir naquela noite direto para Arequipa e de lá ver a possibilidade de subir no El Mist ou conhecer o canion de Colca, o segundo maior do mundo. Depois iria pegar um vôo direto ao Brasil, segundo havia visto em um site e o valor da passagem também era mais em conta com relação a Cusco. Eu iria enfrentar 10 horas de viagem de ônibus pagando S. 35,00 e economizar vários dólares e desta forma iria prolongar minha estadia em Arequipa.
Mas nem sempre – e para mim isto já estava virando rotina – as coisas acontecem como prevemos. Ao me informar com todos , inclusive a gerência do hotel, que haveriam ônibus para Arequipa até as 22 horas e podia comprar a passagem na própria rodoviária na hora do embarque.
Então preparei minha mochila e fui me despedir da galera. O quarto de Edimilson era o point. Rum, coca-cola e rango e muitos pedidos de “fica mais uma noite”. Mas realmente – não pela galera – mas estava de saco cheio e queria desesperamente (não sei porque) voltar ao Brasil. Peguei a mochila e fui para o terminal de Cusco.
Lá uma caos total, muita gente sentada e andando desordenadamente, pessoas comprando passagens e outras na fila enorme para o pagar a taxa de embarque. Fui a todos os guichês de companhias que vendiam passagens a Arequipa e para o meu desespero só havia para a manhã seguinte, ou seja mais uma noite em Cusco. (nota: relatado anteriormente em outro post). Bom, como sempre eu digo: “Ta no inferno abraça o Capeta”. Minha pernoite estava paga, então voltei para o hotel direto para o quarto do Edimilson.
A porta estava aberta e várias pessoas falando animadamente. Parei na frente da porta e gritei: “E ai tem cachaça nessa porra ainda?” Todos pararam de falar e me olharam atônitos e depois a gritaria foi geral. “ô cara voltou” , falou a Edimilson com um sorriso, e uma gritaria geral. Álvaro veio me recepcionar dando risada e me ajudou a tirar a mochila e mais comemoração em meio a frases como “não disse para você ficar..” , etc. Estavam felizes por minha volta e outras pessoas compartilhavam agora a pequena festinha: duas chilenas e outro brasileiro estavam lá também. A noite passou muito bem e na minha cabeça ao ir deitar só passava a idéia de como seria meu retorno no dia seguinte.

Galera reunida no meu alarme falso de partida: da esquerda para direita- Alvaro (Peru), Paty (Chile), Cezar "cara de garça" (Peru), Cristian (Chile), Não identificada amiga da Paty (Chile), Eu (Brasil), Roberto (Brasil) e Edimilson "sapo louco" no chão totalmente cuzido (Brasil).

Cusco – Peru – 30/01/2009

De manhã consegui me despedir de Pol e Raul e voltei a dormir. A tarde fomos todos levar a Sarai no aeroporto. Na volta paramos no mercado e compramos algumas coisas pois nosso “mestre cuca” – Álvaro - se propôs a cozinhar. Comemos macarrão com atum. Salvou a pátria. A noite nos despedimos da Laura e fomos á alguns bares. Eu teria que esperar até o banco me enviar meu outro cartão para Cusco, então aproveitaria minha estadia forçada para recuperar minhas forças e pensar no meu futuro fora do Brasil.
A despedida de Sarai no aeroporto de Cusco
Olha a primeira coisa que se vê de Cusco quando desembarca
Deus sol na saguão do aeroporto
Edimilson "Sapo Louco" - 3 anos rodando de bike pela America Latina (mano cadê você?)

o pátio principal do hotel

visu de cima
Enquanto eu descansava depois de MP

Cusco - Peru - 29/01/2009

Depois de encontrar a galera e relatar minha aventura, fomos a casa do Franco, um peruano amigo de Cristian. O indiano já havia partido sem conhecer MP. Lá casa, a Sarai, se incumbiu de preparar um almoço do mediterrâneo. Um spaghetti com molho branco e bacon. Para abertura uma sopa peruana e beber um vinho tinto Gato Negro. Voltamos para o hotel e fui falar com o Edimilson “Sapo Louco” que há três anos pedalava, literalmente, pelo mundo. A bordo de sua bike com oitenta quilos de bagagens, ele já havia rodado por todo o litoral brasileiro, América Central e do Sul inteiras. Irá voltar ao Brasil e já tem planos para sua próxima aventura: do Brasil, América Central, USA e Canadá, vôo para Europa e ir pedalando até a Ásia e talvez Oceania. Ele possuía um arquivo de mais de 64 mil fotos e 16 diários de bordo completos. O Edimilson, realmente foi uma bela surpresa em minha estadia em Cusco. Tiramos fotos para registrar o momento e marcamos de nos encontrar no Brasil na sua volta. Disse a ele que pretendia ir a Arequipa e ele por coincidência falou que estava indo para lá no domingo para pegar um dinheiro de estava por lá. Ele estava passando umas necessidades em Cusco, já estava por lá por cerca de um mês e tinha perdido (roubaram) sua máquina e US$ 300,00. Dentro do possível ajudei-o (mal eu iria saber que em muito breve eu necessitaria de sua retribuição). Talvez nos encontraríamos em Arequipa. A noite preparamos uma fiesta de bota fora da galera. A Sarai iria no dia seguinte voltar para Barcelona. Pol e Raul também iriam começar o caminho inca e Laura voltar a Buenos Aires.Compramos rum, cervejas e batatas fritas e ficamos tocando e cantando até quase a meia noite. Foi nesta noite também que percebi que tinha perdido meu cartão money travel com minhas ultimas provisões financeiras.
Pol e eu no bota fora da galera
Sarai tentando tocar gaita
Laura (argentina), Cristian (chileno) e o Raul (Brasileiro) cadê você meu.

Diversão garantida
Foto para eternidade.