Minha intenção era chegar a MP mais cedo possível e desta forma evitar o fluxo intenso de turistas a partir do meio manhã. Então as 6 da manhã parti do meu hotel, onde eu deixei minha mochila já preparada para meu retorno a Cusco. Como iria a pé até o cume, peguei a estrada utilizada pelos ônibus que fazem a linha Águas Calientes – Machu Picchu (US$ 8,00 para estrangeiros) e depois de 30 minutos já estava no museu e início do caminho alternativo.O trajeto sempre sinalizado por setas, em subida íngreme, era composto de pedras de granito em degraus ou rampas, era circundado por todos os lados por uma mata que lembrava muito a Atlântica. A cada trecho deste caminho alternativo eu cruzava com estrada e de vez em quando com o ônibus de turismo local. Haviam outros corajosos que como eu enfrentaram a subida pela manhã. Após uma hora e cerca de 1645 degraus cheguei a Machu Picchu. A infra-estrutura chega a ser agressiva para um lugar considerado místico para alguns. Existe um hotel, ao lado uma lanchonete com um deck com diversas mesas com guarda-sóis onde uma garrafinha de água custa cerca de US$ 5,00 e abaixo desta um café, telefones e banheiros. Para minha decepção não consegui evitar o fluxo de turistas e local estava cheio de todas as nacionalidades e idades (franceses, ingleses, brasileiros, crianças, grupos de terceira idade, e lógico argentinos). A entrada para o sítio fica ao lado da lanchonete, depois de alguns degraus e segue por uma rampa. Não perdi tempo fui logo para a portaria e apresentei meu passaporte e meu ingresso. Ganhei um carimbo e fui.Eu queria ter minha primeira visão de MP do alto, por isso segui para a porta principal. Portanto tive que ter a paciência de subir até o alto atrás de alguns grupos de turistas. Depois de mais alguns de degraus e rampas tive minha primeira visão das ruínas. Apesar das nuvens e chuva que insistia, deu para entender porque todos que visitam MP ficam boquiabertos. Uma cidade construída a 2340 metros de altitude em cima de uma montanha, a centenas de anos atrás. Somente as fotos para descrever melhor a visão. Sentei-me em uma pedra no cume, a minha frente todo o esplendor de Machu Picchu e ao meu lado um precipício de uns 500 metros. Fiquei ali naquela pedra durante umas duas horas, as vezes embaixo de chuva, as vezes com um pouco de sol. Aí resolvi conhecer e caminhar pela “Cidade Perdida dos Incas”. Conheci todos os sítios e pontos que gostaria. Como eu havia adquirido no Centro de Informações de Águas o mapa do sítio, fiz com antecedência minha rota por Machu. Tinha depois de umas horas, havia cumprido meu 2º objetivo de Viagem. Por volta das 11 horas resolvi voltar para Águas Calientes. Então desci os benditos degraus e retornei ao hotel sob uma chuva intensa. (Segundo informações essa ida e volta a MP tem por volta de 8 km). No hotel, peguei minha mochila, troquei a camiseta – que estava ensopada de suor – e fui comer algo. Por volta das 13 horas, agora sob o sol, iniciei o caminho a pé para a hidrelétrica. Bom, existem, como eu disse algumas formas de retornar de Águas Calientes/ Machu Picchu. Uma delas é pegar o mesmo trem direto até Cusco. A outra ir de trem até a hidrelétrica, de lá de táxi até o vilarejo de Santa Teresa ou Santa Maria e desta última existem vans que vão até Cusco. A outra forma é você economizar os US$ 8,00 do trem e ir a pé até a hidrelétrica e de lá seguir o mesmo trajeto de quem vai de trem. Esta foi minha opção, curtir uma caminhada de 8 km pela linha do trem.Realmente valeu a pena. No caminho cruzei por rios, trechos de mata, insetos e animais, passei por túneis e pontes. Vários moradores da região ficam em barracas vendendo frutas, água e refrigerantes na margem da linha do trem.No total demorei 2:30 horas, mas parei varias vezes para fotos e beber água. Diversos mochileiros percorrem o mesmo caminho que eu. Mas todos que encontrei iam em sentido contrário ao meu, ou seja rumo a Águas Calientes.Ao chegar à hidro, me dirigi a uns táxis e vans que estacionados próximo a estação de trem. Negociei com o taxista e por S. 4,00 ele me levou até Santa Teresa. Lá aguardei uma van ou táxi que me levasse ao próximo vilarejo, Santa Maria. Nisso passou um taxista com passageiros, entre eles um casal de argentinos que iam para Santa Maria. Entrei neste mesmo e poucos metros mais adiante uma blitz (controle) policial parou o veículo. A besta do motorista não tinha carteira de habilitação e tentou “molhar a mão” com uma moeda escondida dentro dos documentos. Mas para azar do excomungado motorista, a moeda caiu no chão e todos presenciaram a tentativa de propina. Lógico que nesta hora o guarda armou o maior “barraco” com direito a lição de moral e frases como “yo no necessito de plata”e que isso é corrupção que não existe no país, etc. Resultado, tivemos que volta a pé para Santa Teresa e pegar outro táxi que não demorou a aparecer. Neste fui mais prevenido e perguntei se o taxista possuía documentos. Este respondeu que sim e que podíamos confiar pois tinha acabado de chegar de Santa Maria. Então fomos os três (o casal argentino e eu). Desta vez passamos pela blitz, e poucos metros a frente paramos para a entrada de novos passageiros, uma senhora com um bebê nas costas e uma criança. Mais alguns metros mais dois passageiros. De repente a garota argentina entrou em desespero e começou a chorar, dizendo que não ia mais a lugar nenhum naquele táxi e que queria descer. Nesse momento parou outro carro atrás de nós para transferir mais passageiros para o nosso táxi. O casal aproveitou e saiu do táxi para a entrada de uma família inteira no banco de trás. Bom no total nesta perua corola (tipo uma paraty nossas) estavam nove adultos e seis crianças, que durante umas duas horas cruzamos serras com precipícios e pedras soltas, rios e pontes apertados com bagagens e sacolas em uma estrada de terra que muitas vezes tínhamos que esperar os carros que vinham em sentido contrário passarem, enquanto aguardávamos mais seguros em uma parte mais larga da estrada, pois a mesmas era muito estreita para a passagem de dois veículos. Mas realmente foi muito divertido, pois demos muitas risadas fazendo intercâmbio de culturas e falando das ironias de nossos países. Já havia anoitecido quando chegamos a Santa Maria. Lá consegui uma van para Cusco, mas a menina que vendeu a passagem disse que era necessário ocupar mais assentos para podermos partir. Perguntou-me se havia mais turistas em Santa Teresa e lhe disse que tinha encontrado somente o casal argentino. Ela me disse também que a praça fechava as 19 horas e que nenhum veículo poderia sair oficialmente de lá após este horário. Para piorar o policial que cuidava da cancela era dono de um hotel, então, para ele era muito conveniente que os turistas pernoitassem ali e de preferência em seu hotel. Mas tinha um plano: utilizaríamos outra rota e evitaríamos passar pela praça. Para isso eu deveria, quando o casal chegasse, chama-los rapidamente e descrever a situação para que eles também utilizassem a mesma van que eu. E deu certo, assim que chegaram, fui conversar e convenci-os a ir comigo. Além de nós, iria como passageira uma moradora de Cusco que trabalha por lá de vez em quando. Partimos por volta das 19 horas, previsão de 4 horas de viagem, sob uma chuva fraca. Mas durante o caminho a chuva se tornou uma tempestade e depois de uma hora paramos em um vilarejo. Huyro, era minúsculo, e fomos informados que havia caído, por causa da chuva, uma barreira na estrada principal. E por conta deste deslizamento não poderíamos seguir viagem naquela noite, pois somente pela manhã as máquinas iriam trabalhar no problema. Ninguém estava prevenido para pagar um hotel ou pousada, de forma que dormimos os cinco dentro da van mesmo. Antes disso sai para comprar água e bolachas, conversamos um pouco e tentamos dormir. De manhã fui fazer um reconhecimento do local. Huyro é um vilarejo de umas quatro ruas de barro e seus moradores vivem da agricultura e comercio local. Segundo o motorista iríamos partir as 8 horas e este arrebanhou mais três passageiros para não ter tanto prejuízo. Saímos no horário previsto por mais uma hora de estradas de barro até pegarmos uma “auto estrada” asfaltada. Esta, cruzou todas e mais algumas serras da região, subidas, descidas em forma de “S” , passando por choupanas, criações de lhamas, próximo a picos nevados, hora com calor infernal , hora frio intenso. Duas horas depois chegamos em Ollantaytambo e final de trecho de serra. Depois passamos por Urubamba e ao meio dia estávamos no centro de Cusco. Para terminar com chave de ouro o argentino fecha “não intencionalmente” a porta da van no meu dedo médio da mão esquerda, provocando imediatamente uma dor infernal e a mancha de sangue pisado embaixo da unha. Ele pediu mil desculpas e me ofereceu iodo para passar, pois havia machucado também a junção das falanges do dedo. Passei o iodo contra minha vontade. Despedi-me de meu torturador e sua namorada e fui para o mesmo hotel, mas preferi outro quarto. Lá rapidamente arrumei uma agulha, na qual aquecida, utilizei para furar minha unha, retirar um pouco de sangue e assim diminuir a pressão no meu dedo. Passei também uma pomada antiinflamatória.
E aí após 1650 degraus, uma hora e meia de caminhada (4 km) resolvi mesmo sem folego tentar dar meu depoimento, afinal eu estava em Machu Picchu
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