No horário já estava aguardando ser chamado para embarcar em um ônibus pior que o anterior (e olha que aquele foi dureza: sem banheiro, vazamentos no teto e poltrona pouco reclinável) e com muito mais assentos do que o previsto. Olhei a lista de passageiros eu brasileiro, um paraguaio e todos os outros bolivianos. Assim que partimos foi servida a janta ( arroz, carne fria, legumes, bolinho de chocolate e refrigerante) e duas quadras depois paramos com alegação que o ônibus tinha quebrado, tínhamos que cambiar (trocar). Mentira total que percebi ao entrar no outro ônibus. Este com 24 lugares, ar condicionado, banheiro e poltronas semi-leito reclináveis, exatamente como prometido pela companhia. Aí caiu a ficha o ônibus era de outra empresa que não poderia sair da rodoviária, provavelmente clandestino. Comecei a ligar as coisas: ônibus turístico, a maioria dos passageiros bolivianos que iriam para o Brasil após trocar três vezes de ônibus, pronto estava frito: estava junto com os clandestinos. Bom, “ta no inferno...” . Apesar de tudo os passageiros eram muito simpáticos a minha frente um casal bolivianos com quatro filhos pagando somente 4 passagens e receberam somente 4 jantares. Comi eu já havia comido, ofereci o meu para o pai que recebeu e agradeceu com um sorriso, ele usava a camisa do Ronaldinho Gaúcho do Grêmio. A viajem continuou e eu só tinha coisa para fazer: dormir e descansar. Mas por volta das 4 da manhã paramos. Tínhamos que desembarcar: Aduanda Boliviana. Uma estrada de barro no meio da selva num breu total, além do calor (!!!!). A uns trezentos metros uma luz era a única coisa que se via e teríamos que fazer o trajeto a pé. Bom eu estava devida equipado com uma luz portátil para leitura e eventual falta de iluminação nos ônibus (isso também é comum nessa região). Caminhei até luz (não é poltergeist não) que era na realidade a migração da Bolívia que se resumia a uma casa com dois cômodos, bar ao lado e senhoras com mesas na frente fazendo o câmbio de moedas. Entre na fila. Na minha frente um outro casal de bolivianos mais jovem aguardava. O funcionário gritou para eles “quantos sãos usted?”. O rapaz tentou dizer que estava no ônibus com outras pessoas, mas o funcionário o cortou e repetiu a pergunta com mais ênfase ainda como se fosse uma obrigação deles já saberem e não a dele. Educação boliviana, pensei. O rapaz fez sinal de dois com os dedos, o funcionário entregou então os formulários (targetas) de migração e o casal saiu. Automaticamente o funcionário me olhou dos pés a cabeça e perguntou: “ E tu?” , ao passo que eu só levantei o passaporte. E ele: “és Brasileiño” e eu: “si”. “Dame-lhe tu passaporte e senta-te a cá” , apontando para uma poltrona velhas e rasgada ao lado de uma mesa. Ele sentou numa cadeira atrás da mesa e fez cara de poucos amigos enquanto olhava meu passaporte. Nisso chega outro camarada funcionário e pára na minha frente e pergunta de novo se eu era brasileiro, a mesma resposta. Um deles me pergunta o que eu fazia na Bolívia eu disse turismo e descrevi meu trajeto. Após isso eles comentaram em castelhano como se eu não os entendessem, que com tantos caminhos (estradas) e tipos de transporte porque eu tinha que passar por ali de madrugada junto com um monte de bolivianos. Nessa hora eu amaldiçoava a companhia de ônibus até a ultima geração da família do dono. Mas tudo bem carimbaram meu passaporte pegaram minha targeta de saída e eu estava liberado. Tínhamos que retornar ao ônibus? Mas cadê a migração paraguaia. Em todas as outras fronteiras os postos de migração ficavam um do lado do outro, ali não? Aí lembrei: ônibus clandestino, mais maldições a companhia. Voltamos ao ônibus e partimos, uma hora nada de migração, duas horas, nada, amanhece, nada. Estrada de barro, de repente asfalto e o ônibus pára. Pneu furado, abri a janela para olhar para trás fronteira, ou seja estava em território paraguaio somente duas horas após a migração. Não é toa que aquela rota é conhecida como a rota do tráfico, é terra de ninguém. Consegui tirar uma foto antes de repreendido pelo motorista. Aliás, uma das regras é jamais abrir as janelas. A desculpe era por causa do aire (ar condicionado), mas nada disso, o ônibus tinha isulfim e ninguém poderia ver quem estava ou como era a cara (típica) das pessoas de dentro. Bom, trocado o pneu e uma hora depois chegamos finalmente a aduanda paraguaia. Um galpão grande de dois andares de concreto, no qual na parte interior o pátio era divido em dois por uma plataforma de cimento, tipo de estações de trem. Novamente descemos mas desta vez com nossas mochilas retiradas do bagageiro inferior. Ficamos neste pátio perfilados de frente com nossas bagagens para verificação da polícia federal paraguaia. Então ali não era ainda a aduanda propriamente dita. Vários policiais vestidos todos de preto, bonés, óculos escuros e distintivos no peito aguardavam todos tomarem suas posições. Um deles então começou a chamar alto: Bob! Bob! E batendo palmas. Foi aí que eu vi o tal do Bob. Um cachorro dentro de sua gaiola de transporte, grande o bicho. Esse policial munido de um pote cheio de cocaína atiçou o pobre do animal e soltou para revistar as bagagens. Aí lembrei: eu tinha comprado balas de coca e estava trazendo na mochila. Pronto se esse bendito achasse eu poderia ser indiciado em trafico internacional de drogas? Durante quase 15 minutos, o Bob cheirou, fuçou e nada. Ufa! Estava livre? Aí outro policial veio e pediu a todos que colocassem suas bagagens na plataforma e tirassem tudo de dentro. Pronto, gelado de novo. Individualmente cada policial verificava as bagagens. O meu, até muito educado, permitiu que eu retirasse as minhas coisas. O cara cheirava tudo, menos minhas cuecas e roupas sujas é claro. Foi quando chegou nas balinhas de coca. Ele olhou e disse: “balas de coca?” no que eu rapidamente disse: “ Pero no tienes lo principio activo”. Ele me disse: “aqui o senhor entra mas em seu país acho que não”. Aí retirei minhas garrafinhas cheias de pisco e rum que estava trazendo para beber com meus amigos. O policial pego-as e pôs um pouco afastado. Depois pediu licenças para me revistar, olhou meu guarda notas na cintura junto ao corpo, pediu para abrir e viu minhas notas. Ao terminar disse que podia guardar tudo menos as garrafas. Eu perguntei porquê? Ele que não poderia entrar com as garrafas, somente. Perguntei novamente porquê e como poderia entrar então. Ele disse novamente que não era permitido. Não queria insistir, mas perguntei se poderia preenchendo algum formulário ou autorização. Ele disse, em tom bem baixo, que eu poderia entrar se lhe desse uma destas, apontando para meu porta notas. O desgraçado queria propina para deixar entrar com 5 garrafas de bolso de bebida. E pior de 20 doláres pois só eu só tinha dessas No passo que eu perguntei: “E não lhe der?” ele: “Então as garrafas ficam aqui.” Respondi que não daria e ele que as garrafas, desta forma ficariam. Eu perguntei: “Vão ficar?” e ele : “si”. Então, calmamente abri uma por uma e joguei o precioso liquido todo no chão de barro, próximo a plataforma bem na frente dele e com direito a um ultimo gole da ultima garrafa. Depois eu trouxe as garrafas e apontei para ele dizendo: “Aí estão, senhor” e ele respondeu fingido educação: “Agora o senhor pode continuar sua viagem”. Eu xingava tudo essa hora. Fui orientado que deveria agora passar pelo escritório da aduanda propriamente dita. Era casa simples e aguardei na fila. Ao ver me passaporte um funcionário gentilmente o pediu e falou para aguardar afastado da fila. Pensei: o que vem agora. Para meu espanto um minuto depois me pediu para entrar. Eu estava apreensivo pois tinha fila e ele me fez corta-la. Dois simpáticos homens atrás da mesa conversavam animadamente e um deles me perguntou: “ Quer dizer que daqui algum tempo teremos finalmente um Ronaldinho paraguaio, não é?” e começaram a rir. Não entendi na hora e ele complementou: “ É que teremos um jogador pai brasileiro e mãe paraguaio.” Ele quis dizer eu iria arrumar filhos no paraguai, por isso alguém no lá iria jogar bola como brasileiro. Dei um risada sem graça e ele disse com um sorriso no rosto: “Bem vindo ao Paraguai” e entregou meu passaporte. Agradeci e fui para o ônibus. Minhas aventuras com policiais paraguaios não acabava ali. Bom pensei pelo menos estou com as balas de coca. Opa, isso era preocupante, mas deixarei para pensar depois. Dois funcionários da aduanda pegaram carona em nosso ônibus e depois de umas duas horas fomos parados pela polícia. Dois entraram, um vestido com farda militar e outro vestido como polícia federal. Munidos da lista de passageiro vieram direto para minha poltrona e disseram meu nome. Eu disse que sim que era eu. Um deles pediu o passaporte e o outro o que eu estava fazendo no país. Toca eu explicar tudo de novo. Um deles olhou minha carteira de vacinação de febre amarela datada de 2007 (foi o ano que fui a Cuba e precisei da carteira) e disse que não valia mais. E complementou dizendo que só vale por um ano. Eu retruquei e lhe disse a que vacinação é validade por dez anos e não um, e que não importava quando tivesse tirado a carteira desde que a vacina estivesse no prazo. Lógico que depois disso não houve argumento por parte deles. Se entreolharam, olharam para mim novamente e me entregara o passaporte. Para terminar o policia federal ainda disse em tom de brincadeira: “ Brasil, cachaça boa, né. Samba” Fiz uma cara de “foda-se” e balancei a cabeça. Estava claro que aqueles dois só queriam uma coisa: grana. Estava certo, pois mal começamos a andar de novo, um dos homens da aduanda veio até mim e perguntou o quê que os policias haviam me falado. Eu descrevi para ele. Então ele, de uma forma bem direta e até abrupta, orientou-me que os caras só queriam dinheiro, que eu não deveria dar nada a nenhum policial no paraguai, que eu era turista e tinha meus direitos. E ainda ressaltou que se tivesse algum problema que eu deveria dizer que iríamos a policia juntos e chamar a embaixada ou consulado. Eu agradeci e ele sorriu. Achei legal a atitude do homem, um pouco louca, mas legal. A partir da em cada parada da policia e não forma poucas, ficava esperto. Cheguei em Assuncion por volta das 6 da tarde. Um a cidade grande, parecia organizada e limpa. Olhei para o relógio/ temperatura na rua 36 ºC !!! Só acreditei quando desci do ônibus na porta do hotel onde o pessoal iria ficar. Me despedi do pessoal e fui direto para a rodoviária para ver se arrumava passagem naquela mesma noite. Na rodoviária fui informado que ônibus somente pela manhã e a maioria das companhias os guichês já estavam fechado. Aproveite e fiz um câmbio de dinheiro rápido ali mesmo na rodoviária para passar a noite finalmente dormir em uma cama em algum hotel próximo. Me informei num guichê de uma companhia se havia lugar para comer bom ali perto e qual o hotel recomendariam. Duas dicas preciosas, estava cansado, suado e com fome. O rapaz me indicou um hotel legal do outro lado da rua, que possuía um restaurante embaixo muito bom. Segui a dica e não me arrependi. Na portaria, só havia quartos duplos, não me lembro quantos guaranis paguei,mas foi cerca de R$ 20,00 pelo pernoite com banheiro no quarto, água quente, ar condicionado e televisão. Tomei um banho e desci para comer algo no restaurante embaixo mesmo. Para variar cerveja, mas agora Brahma de 960 ml (!!) geladíssima no baldinho e churrasco de calçada muito bem feito e pago por pedaço, comi costela e lingüiça e acompanha grátis farofa, arroz, farofa e maionese. Lembrou bem o Brasil. Tomei mais uma breja e resolvi descansar, mas antes bati um papo com o recepcionista do hotel. O rapaz tinha por volta do 25 anos, casado com uma filhinha, trabalhava 12 por 12 horas todos os dias!!! Ou seja 365 dias por ano, feriados, natal, ano novo e tudo mais. E ele me disse que o dinheiro que ganhava mal dava para pagar as despesas e olha que mulher dele também trabalhava. E tem gente no Brasil que ainda reclama? Conversei com ele uma hora mais ou menos e pedi para ele me acordar antes de acabar o turno dele para eu fazer o check-out com ele. Desci de manhã e paguei minha conta e junto dei-lhe uma boa gorjeta. Fui então tomar café na rodoviária.
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